quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Maçonaria, Arte Real

Por se tratar de uma Arte destinada à construção do caráter humano, a maçonaria adotou como base da sua filosofia e como suporte do seu simbolismo os fundamentos e as ferramentas da ciência contida na arte de construir, ou seja, a Arquitetura. Daí a razão de a grande maioria dos símbolos, alegorias, lendas, analogias e arquétipos presentes na Arte Real estarem todos ligados à ideia da construção ou da reconstrução, física ou espiritual, do edifício moral da humanidade. Desta arte, a arte de construir, tomada no seu sentido simbólico, é o principal arquétipo maçônico.

Evidentemente, há nessa questão um fundamento histórico inegável que não se pode ignorar. Pelo fato de a maçonaria estar umbilicalmente ligada aos antigos construtores medievais (pedreiros livres, como se chamavam esses profissionais), é natural que boa parte da sua simbologia provenha dessa que é a mais antiga fábrica do engenho humano. Mas hoje, sendo a maçonaria essencialmente especulativa, isto é, análoga a uma escola de filosofia, com características de entidade filantrópica e associação corporativa, não há mais que se falar na simbologia dos antigos pedreiros em termos operativos, mas apenas como alegorias de fundo espiritual.

Assim, a arquitetura de que se fala na maçonaria se refere à construção de uma sociedade justa e fraterna, onde todas as pessoas possam viver em harmonia e união. Nesse, como em outros princípios defendidos pela Irmandade, ela não se afasta da proposta esotérica contida em todas as religiões, que prometem um estado interior de bem-estar a ser experimentado em nível de espírito.   

E também integra uma esperança de caráter profano, buscada por todas as experiências políticas já tentadas pelo homem na tarefa de organização de suas sociedades, que é a de proporcionar bem estar e justiça para todos. Em ambos os casos, a analogia com a arte da arquitetura é bastante adequada, pois se trata sempre de construir um edifício na forma de um mundo ideal. Por isso ela é a Arte Real. 

A prática da maçonaria é essencialmente um exercício espiritual que tem por meta moldar o caráter do seu praticante, fazendo dele um verdadeiro obreiro do universo. Por isso se diz que nos templos maçônicos não se pratica uma religião, mas sim uma Arte, cujo propósito é o aperfeiçoamento do ser humano a partir de uma forma de pensar e de um modelo de conduta, no qual se releva o respeito pela pessoa humana e o bem-estar da comunidade.

Por isso é que se recomenda, em muitas Lojas, que o irmão, ao ingressar no templo, deixe do lado de fora a sua vestimenta carnal e nele entre só munido do seu espírito. Essa é uma metáfora que significa: vigie sua mente racional, pois ali dentro você está proibido de julgar; vigie seus preconceitos, seus pressupostos e supostas sabedorias, pois ali você poderá ouvir coisas que lhe parecerão, de início, inúteis e absurdas; exercite a sua tolerância, pois é na prática dessa virtude que o irmão irá adquirir a flexibilidade de espírito necessária para entender o verdadeiro significado da maçonaria. 

A maçonaria é muito mais que um grupo de pessoas que se reúne para um objetivo social − que também se insere entre suas atividades −; ela é, antes, uma comunidade de pensamento, cuja finalidade é formar mentalidades dignas e capazes de conduzir os assuntos da sociedade em que estão inseridas com a eficiência e o zelo que os valores por ela consagrada exigem. 

Daí a insistência de que seus membros nela entrem “limpos e puros” e nela se tornem “justos e perfeitos”, pois é desse exercício de virtude que se moldam os líderes necessários para a condução desse processo. Essa não é, como se vê, uma tarefa fácil de ser planejada, executada e mantida como processo de educação, e como em todos os sistemas do gênero, “muitos são os chamados, e poucos são os escolhidos”; pois como dizia Jesus, é mais fácil para uma criança do que para um adulto entender certas verdades, pois está ainda não tem a chamada “sabedoria” que julga. 

Por isso, a nossa sabedoria em nada lucrará se ao frequentarmos uma Loja, os nossos pensamentos se mantiverem no território da racionalidade útil e proveitosa, que só valora aquilo que, em princípio, pode nos acrescentar bons dividendos materiais. Não usaremos os conhecimentos maçônicos para construir uma ponte, um edifício, lucrar na bolsa de valores ou de mercadorias, arrumar um bom emprego, conseguir um empréstimo no banco, etc. (embora todas essas coisas estejam implicitamente relacionadas como objetos dessas relações), pois esse não é o objetivo. Mas ao adquiri-lo, um dia perceberemos que esse conhecimento e essas possibilidades sempre estiveram ali, à nossa disposição.


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