Por se tratar de uma Arte destinada à construção do
caráter humano, a maçonaria adotou como base da sua filosofia e como suporte do
seu simbolismo os fundamentos e as ferramentas da ciência contida na arte de
construir, ou seja, a Arquitetura. Daí a razão de a grande maioria
dos símbolos, alegorias, lendas, analogias e arquétipos presentes na Arte Real
estarem todos ligados à ideia da construção ou da reconstrução, física ou
espiritual, do edifício moral da humanidade. Desta arte, a arte de construir,
tomada no seu sentido simbólico, é o principal arquétipo maçônico.
Evidentemente, há nessa questão um fundamento histórico inegável que não se pode ignorar. Pelo fato de a maçonaria estar umbilicalmente ligada aos antigos construtores medievais (pedreiros livres, como se chamavam esses profissionais), é natural que boa parte da sua simbologia provenha dessa que é a mais antiga fábrica do engenho humano. Mas hoje, sendo a maçonaria essencialmente especulativa, isto é, análoga a uma escola de filosofia, com características de entidade filantrópica e associação corporativa, não há mais que se falar na simbologia dos antigos pedreiros em termos operativos, mas apenas como alegorias de fundo espiritual.
Assim, a
arquitetura de que se fala na maçonaria se refere à construção de uma sociedade
justa e fraterna, onde todas as pessoas possam viver em harmonia e união.
Nesse, como em outros princípios defendidos pela Irmandade, ela não se afasta
da proposta esotérica contida em todas as religiões, que prometem um estado
interior de bem-estar a ser experimentado em nível de
espírito.
E também integra uma esperança de caráter profano, buscada por todas as
experiências políticas já tentadas pelo homem na tarefa de organização de suas
sociedades, que é a de proporcionar bem estar e justiça para todos. Em ambos os
casos, a analogia com a arte da arquitetura é bastante adequada, pois se trata
sempre de construir um edifício na forma de um mundo ideal. Por isso ela é a
Arte Real.
A prática da
maçonaria é essencialmente um exercício espiritual que tem por meta moldar o
caráter do seu praticante, fazendo dele um verdadeiro obreiro do universo. Por
isso se diz que nos templos maçônicos não se pratica uma religião, mas sim uma
Arte, cujo propósito é o aperfeiçoamento do ser humano a partir de uma forma de
pensar e de um modelo de conduta, no qual se releva o respeito pela pessoa
humana e o bem-estar da comunidade.
Por isso é que
se recomenda, em muitas Lojas, que o irmão, ao ingressar no templo, deixe do
lado de fora a sua vestimenta carnal e nele entre só munido do seu espírito.
Essa é uma metáfora que significa: vigie sua mente racional, pois ali dentro
você está proibido de julgar; vigie seus preconceitos, seus pressupostos e supostas
sabedorias, pois ali você poderá ouvir coisas que lhe parecerão, de início,
inúteis e absurdas; exercite a sua tolerância, pois é na prática dessa virtude
que o irmão irá adquirir a flexibilidade de espírito necessária para entender o
verdadeiro significado da maçonaria.
A maçonaria é
muito mais que um grupo de pessoas que se reúne para um objetivo social − que
também se insere entre suas atividades −; ela é, antes, uma comunidade de
pensamento, cuja finalidade é formar mentalidades dignas e capazes de conduzir
os assuntos da sociedade em que estão inseridas com a eficiência e o zelo que
os valores por ela consagrada exigem.
Daí a insistência de que seus membros nela entrem “limpos e puros” e nela se
tornem “justos e perfeitos”, pois é desse exercício de virtude que se moldam os
líderes necessários para a condução desse processo. Essa não é, como se vê, uma
tarefa fácil de ser planejada, executada e mantida como processo de educação, e
como em todos os sistemas do gênero, “muitos são os chamados, e poucos são os
escolhidos”; pois como dizia Jesus, é mais fácil para uma criança do que para
um adulto entender certas verdades, pois está ainda não tem a chamada
“sabedoria” que julga.
Por isso, a
nossa sabedoria em nada lucrará se ao frequentarmos uma Loja, os
nossos pensamentos se mantiverem no território da racionalidade útil e
proveitosa, que só valora aquilo que, em princípio, pode nos acrescentar bons
dividendos materiais. Não usaremos os conhecimentos maçônicos para construir uma
ponte, um edifício, lucrar na bolsa de valores ou de mercadorias, arrumar um
bom emprego, conseguir um empréstimo no banco, etc. (embora todas essas coisas
estejam implicitamente relacionadas como objetos dessas relações), pois
esse não é o objetivo. Mas ao adquiri-lo, um dia perceberemos que esse
conhecimento e essas possibilidades sempre estiveram ali, à nossa disposição.
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